23/05/2006
eu gosto de escrever, gosto de opinar, gosto de me expressar. que soe como loucura, mas é verdade: me dá prazer o ato de me expor com letras, de soar convicta, decidida e moralista.
mas é difícil de lidar com a minha ganância pelas palavras, quando não sei bem sobre o que falar ou relatar. digamos que, me perdi na busca por um assunto.
pedi auxílio então, ao meu mapa de temas.
ele me deu uma boa orientação: dê três passos à esquerda, cinco para frente, sente-se. apalpe a terra e procure algum vestígio de buraco camuflado. achou? perfeito! tire o desfarce que o cobre, e com muito cuidado, destampando o buraco devagar, tire lá do fundo uma daquelas suas lembranças remotas - provavelmente estarão um pouco sujas de terra, mas não se espante.
segure firme, apalpe, cheire, note a forma, sinta, explore. agradou? aí está o seu tema. tente associa-lo com algo atual. opa! deu certo?
quando era pequena (aliás, menor), encostava o sofá perto da janela, e deitava, de cabeça para baixo, pondo as pernas pra fora da janela aberta, e deixando a cabeça quase encostar no chão.
dava gargalhadas da aparência do mundo de cabeça-pra-baixo.
e aí pensava: eu me viro, e vejo o mundo de um jeito diferente.
as pernas balançavam do lado de fora pegando um poquinho da brisa do fim da tarde. nada de aparentemente muito especial, mas era realmente divertido.
hipócritas eram os que ridicularizavam; sei que no fundo tinham curiosidade de fazer aquilo também. situações deliciosas e singelas como essas brincadeiras de criança dão ótimos resultados no futuro. e os emburradinhos de plantão que se recolham com a sua ignorância e descrença, já que é provado que infância feliz dá reflexo, sim!
"ver o mundo de um jeito diferente" foi passatempo por anos. talvez até uma das coisas mais divertidas da época. a altura das janelas da casa eram totalmente propícias à situação.
mas teve o dia da mudança: adeus, casa. adeus, janela. adeus, sofá.
fiquei então, desprovida por algum tempo da visão do mundo de cabeça para baixo.
e cheguei a grande conclusão que ver o mundo de um jeito diferente me fazia feliz; mas quando me tiraram esse privilégio e vi tudo sempre do mesmo jeito, entristeci.
eis aqui, a parte da minha infância que ajudou nas minhas atuais características.
quando recebemos a permissão de ver as coisas de um jeito diferente, de falar a respeito delas de um jeito diferente, de fazer coisas diferentes, acabamos gerando um estilo próprio.
levei algum tempo para perceber que a janela era só um dos lugares que me permitiam ver o mundo de cabeça pra baixo. descobri outros depois de algumas semanas. e depois de mais alguns anos, notei que não precisava mais do auxílio de objetos para virar as coisas. tentava olhar de cabeça para baixo, de fora para dentro, de dentro para fora, de frente, de lado, de costas.
daí aprendi a analisar e julgar as coisas de uma outra forma.
hoje em dia, admito que tenho dificuldade de lidar com pessoas sem opinião, ou aquelas pré-conceitu(adas)(osas).
sabe o que deveria ser feito? essa pessoas deviam deitar-se no chão para observar nuvens. elas iriam ver como cada um vê as coisas diferente do outro. e depois elas deveriam tentar a janela, quando já estivessem mais preparadas.
já está tarde.
o mundo precisa ver as coisas de um jeito diferente. tomar uma injeção de opinião própria, respeito e atitude.
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marina b.,
18, pólis do sr. floriano peixe oco, da capitania hereditária de santa catarina, uma mistura de perfeccionismo, teimosia, stress, muita curiosidade, amor transbordante, algumas boas amizades, maternidade perfeita, valores, com uma pitada de angústia e inveja, porque todo mundo tem.
e uma
ESFP.
love:
aquelas pessoas especiais, as músicas certas nas horas certas, fotografia, cores, composição, palavras/notas musicais blended in perfection, ponta fina, janelas grandes para sentar e olhar, o mar, uma coisinha pequena e doce ao final de uma refeição, momentos de ócio criativo, filmes embaixo das cobertas ou no cinema, felinos e vaquinhas, sorrisos inesperados, demonstrações de afeto, transbordar mel, reconhecimento.
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