20/01/2009


Caio F.alando por mim

(...) chegue bem perto de mim. Me olhe , me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.
A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro.
Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também.
Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro.
Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções.
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. 
E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.
Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.
Então eu te disse que o que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exatas. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.
Eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro.Mas eu preciso muito muito de você.
Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis.
Meu coração tá ferido de amar errado.

Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
Foi numa dessas manhãs sem sol que percebi o quanto já estava dentro do que não suspeitava. E a tal ponto que tive a certeza súbita que não conseguiria mais sair. Não sabia até que ponto isso seria bom ou mau — mas de qualquer forma não conseguia definir o que se fez quando comecei a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto. Não que houvesse fotografias ou qualquer coisa de muito concreto — certamente havia o concreto em algumas roupas, uma escova de dentes, alguns discos, um livro: as miudezas se amontoavam pelos cantos. Mas o que marcava e pesava mais era o intangível.
Lembro que naquela manhã abri os olhos de repente para um teto claro e minha mão tocou um espaço vazio a meu lado sobre a cama, e não encontrando procurou um cigarro no maço sobre a mesa e virou o despertador de frente para a parede e depois buscou um fósforo e uma chama e fumei fumei fumei: os olhos fixos naquele teto claro. Chovia e os jornais alardeavam enchentes. Os carros eram carregados pelas águas, os ônibus caíam das pontes e nas praias o mar explodia alto respingando pessoas amedrontadas. A minha mão direita conduzia espaçadamente um cigarro até minha boca: minha boca sugava uma fumaça áspera para dentro dos pulmões escurecidos: meus pulmões escurecidos lançavam pela boca e pelas narinas um fio de fumaça em direção ao teto claro onde meus olhos permaneciam fixos. E minha mão esquerda tocava uma ausência sobre a cama.
Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.
Não conseguia compreender como conseguira penetrar naquilo sem ter consciência e sem o menor policiamento: logo eu, que confiava nos meus processos, e que dizia sempre saber de tudo quanto fazia ou dizia. A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol, olhos fixos no teto claro, suportava um cigarro na mão direita e uma ausência na mão esquerda. Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido.
Me ajuda que hoje eu tenho certeza absoluta que já fui Pessoa ou Virginia Woolf em outras vidas, e filósofo em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros, pelas fadas. Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para baixo da quaresmeira em flor que eu quero encontrar em seu tronco o lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e respirar aliviado e por um instante não ser mais eu, que hoje não me suporto nem me perdôo de ser como sou sem solução.
Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém.
Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança.Mas só fico aqui parado.

Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez.
Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim.


marina, 21:35
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10/01/2009


Dois mil... Inove.

Final de ano: a maior loucura. Além de vestibular e o stress básico, companheiro meu de cada dia, minhas turbulências afetaram tudo ao meu redor: amizades, namoro, família, rotina.
A passagem do ano não foi das mais perfeitas, e nem foi das piores. Mesmo na contagem regressiva aquela núvem negra se recusou a me deixar em paz. Continuou me seguindo, segue-me até agora, chovendo em mim pequenos problemas a toda hora. 
Conformei-me com ela, com todo o resto. Fiz o que pude para aproveitar e o que veio depois, sim, compensou. Pode ter sido a forma mais comum de resolver as coisas, talvez até um pouco temporária, mas foi satisfatória e - o mais importante - sincera. Não é só porque todo mundo faz que necessariamente não funciona também. Não poderia exigir nada mais do que tive para as minhas mudanças - eu sabia que só quem podia me mudar era eu, e não as situações daquele dia.
Dia 1º: Reflexões. Retrospectiva. Reformulação (de mim mesma). 
"Fresh starts, thanks to the calendar, they happen every year: just set your watch to January, our reward for surviving the holiday season is a new year. Bringing on the great tradition of new years resolutions: put your past behind you and start over. It’s hard to resist the chance of a new beginning, a chance to put the problems of last year to bed. Who gets to determine when the old ends and the new begins? It’s not on the calendar, it’s not a birthday, it’s not a new year, it’s an event — big or small, something that changes us, ideally it gives us hope, a new way of living and looking at the world, letting go of old habits, old memories. What's important is that we never stop believing we can have a new beginning, but it's also important to remember amid all the crap are a few things really worth holding on to."
Não precisava de mais nada. Depois de tantas conversas, tantas lágrimas, tantos tapas na cara, eu  sentia, no fundo, muita raiva de mim. Entretanto, sabia o que fazer: vi que essa raiva poderia ser algo melhor e logo ali transformei-a no estopim da minha mudança. Decidi a hora de mudar. E mudei. E agora eu falo e largo e me seguro e me controlo. E se estiver duvidando, não recomendaria que você pedisse para ver - veio de uma raiva, afinal. 
Tudo ótimo, tudo lindo. Só que, convenhamos, não existe vida num mundo cor-de-rosa. Aquela núvem negra continua a me seguir juntamente com sua colega Lady Murphy - apesar de eu insistir que a companhia das duas me desagrada. Quem me deu ouvidos? Novamente: não existe vida num mundo cor-de-rosa.
Incomodações sempre vêm. Não passei no vestibular - e como quem sempre ganha de presente bons motivos pra se mutilar: foi por pouco. A grana que ia sobrar, ficou curta. Não vou viajar. Será que foi porque eu não pulei as 7 ondinhas? Ai, ai, ai.
Eu disse que estava preparada para o pior, que não tinha esperanças, que me conhecia: "vai dar tudo errado". Oi? Cadê?
Bem lá no setor dos fundos da minha mente, fazendo diviza com o primeiro setor do coração, existe uma porta com um sinal em letras garrafais: "NÃO ENTRE, OU IRÁ SE MACHUCAR" e muitos cadeados.  Lá estavam as minhas verdadeiras expectativas. Estavam as flores, as borboletas, os sorrisos e os sonhos. Meu 2009, aparentemente, não vai ser nada de acordo com as minhas expectativas. A destruição deu o ar da sua graça e passou por aqui como um furacão. Minhas borboletas, sorrisos e sonhos viraram pequenos monstrinhos que apontavam pra mim e riam. Só que um último desses monstrinhos, um pouquinho encabulado, saindo por último e de fininho, fechou aquela porta, re-ergueu a placa, fechou os cadeados e me disse: "Quando eu me reconheci no espelho como um monstrinho, sofri. Mas tenho tentado fazer as coisas certas, sabe? Apesar deste kharma que já está em mim. Talvez, moça, você também sofra agora... Mas não negue a chance que lhe foi dada de fazer tudo certo mesmo assim."
E é só isso que eu estou tentando fazer. Por enquanto ainda dói. Mas quando a porta se fechou novamente e as minhas expectativas reais começaram a se reconstruir, uma das novas borboletinhas é aquela que diz que um dia essa dor ainda vai passar.

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marina, 01:15
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Sorry to myself

"For hearing all my doubts so selectively and
For continuing my numbing love endlessly. 
For helping you and myself, not even considering me
For beating myself up and overfunctioning.

To whom do I owe the biggest apology?
No one's been crueler than I've been to me.

For letting you decide if I indeed was desirable
For myself love being so embarassingly conditional.
And for denying myself to somehow make us compatible
and for trying to fit a rectangle into a ball.

To whom do I owe the biggest apology?
No one's been crueler than I've been to me.
I'm sorry to myself.
My apologies begin here before everybody else.
I'm sorry to myself.
For treating me worse than I would anybody else.

For blaming myself for your unhappiness
and for my impatience when I was perfect where I was.
Ignoring all the signs that I was not ready,
and expecting myself to be where you wanted me to be.

To whom do I owe the first apology?
No one's been crueler than I've been to me.
I'm sorry to myself.
My apologies begin here before everybody else.
I'm sorry to myself.
For treating me worse than I would anybody else.

Well, I wonder which crime is the biggest:
Forgetting you or forgetting myself?
Had I heeded the wisdom of the latter,
I would've naturally loved the former.

For ignoring you, my highest voices.
For smiling when my strife was all too obvious.
For being so disassociated from my body,
and for not letting go when it would've been the kindest thing.

To whom do I owe the biggest apology?
No one's been crueler than I've been to me.
I'm sorry to myself.
My apologies begin here before everybody else
I'm sorry to myself.
For treating me worse than I would anybody else."

Alanis Morissette

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marina, 01:07
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sumário

o que eu queria dizer, e não disse
remember/forget/remember/forget/remember/forget
Caio F.alando por mim
Dois mil... Inove.
Sorry to myself
Dessssssssprezível
Liberdade
This mess we're in
O mais genial dos ensaios
Eu admito:

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marina b.,
18, pólis do sr. floriano peixe oco, da capitania hereditária de santa catarina, uma mistura de perfeccionismo, teimosia, stress, muita curiosidade, amor transbordante, algumas boas amizades, maternidade perfeita, valores, com uma pitada de angústia e inveja, porque todo mundo tem.
e uma ESFP.

love:
aquelas pessoas especiais, as músicas certas nas horas certas, fotografia, cores, composição, palavras/notas musicais blended in perfection, ponta fina, janelas grandes para sentar e olhar, o mar, uma coisinha pequena e doce ao final de uma refeição, momentos de ócio criativo, filmes embaixo das cobertas ou no cinema, felinos e vaquinhas, sorrisos inesperados, demonstrações de afeto, transbordar mel, reconhecimento.

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